Domingo, 18 de junho, vou contar três histórias de mulheres do interior de Alagoas (Viçosa, Messias e de Senador Rui Palmeira). Todas têm dupla jornada no doce lar e no saber e fazer das tradições, são empreendedoras da culinária alagoana. Vamos conhecer:
“Eu quero uma casa no campo,
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais…”
A música, Casa no Campo, imortalizada na voz de Elis Regina, embalou minha viagem à cidade de Viçosa, destino mais lindo de Alagoas para viver e experiência do saber e fazer do queijo brazulaque pelas mãos de Josefa de Freitas, conhecida como Zefa do Queijo. Na receita, leite cru (sem química), nata, sal, e muita resignação para mexer a panela até o ponto certo.
Ela carrega a história da tradição de mulheres do campo, compartilhadas pela professora de gastronomia do IFAL, Isabela Barbosa. “Na infância, das muitas alegrias, uma que me recordo com o gostinho de saudade na boca, é da Vó Áurea fazendo uma panela de brazulaque e a gente esperando o término pra raspar a panela. Parece que o melhor gosto do queijo estava concentrado ali, naquelas sobras que de imediato eram consumidas por quem ficava de olhos brilhando na espera do momento”, disse.
O queijo brazulaque é uma receita feita por famílias como a da Isabela, e cada uma carrega sua história. Zefa ou Zefinha como é chamada carinhosamente, aprendeu com a mãe, que por sua vez aprendeu com avó da Zefa. E assim segue o ciclo saboroso, onde o olho e as mãos são as medidas exatas do saber e fazer, e dá certo. A alagoana fez para a gente ver e depois provamos com doce de banana com café coado quentinho para aquecer o coração.
Zefa do queijo também faz manteiga (batida e de fogão), requeijão, coalho, frescal, e mussarela. Basta encomendar pelo telefone: (82) 99609-5383
Viajei a convite da Isabela com o chef Rodrigo Aragão e Anair Araújo (leia-se Ôxe, Comidas Nordestinas), e com o fotógrafo Matheus Alves. Na viagem ainda saboreamos o doce de goiaba de pétalas da Alice Barbosa, mãe de Isabela. Naturalmente, a viagem a Viçosa é o tão sonhado turismo de vivências, e inesquecíveis.
Rainha das PANCs
PANC, você já ouviu falar? Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), é uma cultura alimentar, e cada vez mais presente nas cozinhas brasileiras. O chef André Generoso é mestre das Panc nas receitas do Divina Gula. Mas, segundo Domênica Didier, nós temos uma rainha no assunto, a Maria do Bosque, uma nordestina arretada. Para nossa sorte, a alagoana participou da última Feira Sustentável Sabor do Campo e levou muito mato e folhas comestíveis, como o famoso jambu (erva amazônica), que dá uma leve dormência no céu na boca (ótimo na cachaça e nos frutos do mar), e outras relíquias como a taioba (folha), araruta, bertalha, ora pro nóbis…
Maria do Bosque, ex- cortadora de cana, gosta de ser chamada de camponesa. Uma menina que nasceu, viveu e vive do campo, mãe de dois filhos, ela planta e colhe para dar mais sabor à nossa cozinha. Quem deseja encomendar pode ligar para 82 99987-1068 (telefone rural, então nem sempre tem sinal) ou aguarda o segundo domingo de cada mês na Feira Sustentável Sabor do Campo da Secretaria do #MeioAmbiente e dos #RecursosHídricos de Alagoa (Semarh) na Praça Vera Arruda.
Na cidade de Senador Rui Palmeira, a umbasada (fruta + leite de coco + açúcar) é tradição da semana santa, e essa frutinha da caatinga tem em abundância, tanto que antigamente se estragava, mas graças às mulheres sertanejas da Associação Cactus (@cactus.docurasdosertao , o fruto tem aproveitamento de 100%, vira geleias, doces, compotas salgadas e doces para felicidade dessas guerreiras, e nossa também. Tudo começou com as agricultoras tentando aproveitar a fruta, mas como é ácida, a receita de doces não ficou legal. Assim, entrou no cenário Pollyana Cássia, do Sebrae, que trouxe conhecimento para as mulheres aperfeiçoarem os produtos derivados do umbu.
Na consultoria gratuita do Sebrae, a nutricionista Helena Menezes desenvolveu geleias, doces e até compotas de doces e salgados para renda das agricultoras, e claro, para acabar com o desperdiço. Os novos produtos do umbu mudaram a vida das mulheres sertanejas, como a de Cícera Dione que, além de cuidar da sua roça e casa, dedica um tempo para produzir os doces da fruta. “Aqui fiz novas amigas, a gente trabalha e se diverte, e ainda tenho um dinheiro extra para pagar a minhas contas, recuperei minha auto estima, também é a melhor terapia”, conta alagoana.
Quem deseja adquirir a doçura do umbu produzido pelas mulheres sertanejas, basta entrar em contato com Legian pelo 82 98209-4895.
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1 comentário
Zelma
11 meses Atrás
K melhor doce e o queijo brasulaque, é o melhor queijo e a manteiga da Zefa do queijo.