Sem foie gras, e com siri…

O siri é o bem-querer dos alagoanos, seja no leite de coco, no azeite, na fritada, no pastel, o gostoso é saborear o coral ou sua carninha despinicada (termo nordestino, mesmo que desfiado). Pois bem, este bichinho do mangue ganhou versão elegante de croquete, servido no prato do artesão João das Alagoas, lá de Capela, no restaurante Canto do Picuí, sem foie gras (fígado de aves), e com siri, sururu, carne do sol… É o Nordeste pulsando com força em São Paulo.

Estive em São Paulo no Canto do Picui, e lá encontrei o tempero afetivo nos pasteizinhos de carne de sol e de queijo coalho de dona Fátima (mãe do chef Wanderson Medeiros), uma receita da avó do chef, bem nascida na cidade de Picuí, que eram vendidos na feira e agora são artigos de luxo da gastronomia nordestina.

Mas o chef Wanderson Medeiros também trouxe outra receita da Fátima, a cordinha guisada, que virou croquete de todos os santos nordestinos, porque é de comer rezando. Se a mãe cozinha bem, o filho nem se fala, e no cardápio tem receitas de Maceió, como a clássica carne de sol com mousseline de mandioquinha, e dos casamentos de Milagres, como o arroz cremoso de camarão e paella dos Milagres.

O crostini de banana da terra com queijo manteiga e mel nos leva diretamente ao Sertão, com o capricho e a singeleza que o Picui (leia-se chef Wanderson Medeiros) coloca em cada prato e que é sua identidade. É como se ali estivéssemos numa parada na estrada que liga o litoral ao sertão!

O peixe sobre a cama de sururu é outro sem igual. Sente-se o sabor do sururu como se nunca tivesse saído de seu capote. Valoriza e respeita o principal ingrediente da nossa terra. O complemento que é a farofa de castanhas e coco dá aquele toque especial que tanto vemos na nossa gastronomia alagoana. E o caldinho de sururu, nosso manjar de Nossa Senhora dos Prazeres, manda bem em São Paulo.

Trajetória- “Joana de Dourinho” era o nome mais conhecido de Picuí, interior da Paraíba, famosa pela sua carne de sol, a glória da mesa dos nordestinos brasileiros. É de lá o princípio da saga do chef Wanderson Medeiros que, quando criança, sua melhor brincadeira era passear com o avô Dourinho na feira da cidade. Já com sua avó Joana, era esperto, ficava de butuca, olhando ela preparar bolos e doces para poder beliscar. De sua mãe dona Fátima, formosa, que faz até pasteis divinos, ele tinha a missão de ajudá-la na venda dos salgados nos pontos comerciais.

Para arrebatar o coração e o estômago dos paulistanos e do mundo também, já que São Paulo abriga gente de todo canto, Wanderson montou um cardápio que vai unir os 132 anos de tradição em carne de sol na família, os 32 anos de história do restaurante Picuí, em Maceió e os pratos de destaque do Menu dos Milagres servidos no município de São Miguel dos Milagres, litoral norte de Alagoas. Na cozinha conta com o auxilio luxuoso do chef alagoano, Rafael Farias.

Wanderson Medeiros é chef, pé de valsa, comedor oficial de pipoca, apresentador de televisão, até já apareceu em programas de entrevistas em Portugal e, enfim, virou celebridade. Dona Fátima revelou um segredo: Adriano (como ela gosta de chamar o filho) nasceu em Brasília por um erro de cálculo, mas de nada adiantou ter nascido na capital federal, pois o destino do rapaz é mesmo o Nordeste. E os alagoanos já adotaram o bom rapaz, famoso, que  tem os pés no chão e é bem temperado na simplicidade.

Rota: Canto do Picuí

Rua Ferreira de Araújo, 329 – Pinheiros, São Paulo – SP/ Telefone: (11) 95583-7134/

Funciona de terça a sábado das 19h  às 23h30/ Domingo das 12h às 15h

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