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Cabeça de Bode, só para fortes

fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal

Fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal. A iguaria exótica é uma tradição da Buchada do Vavá no povoado Baixa do Capim, na cidade de Arapiraca

Domingo, dia de sol a pino, e eu seguindo por uma estrada de barro… Mas por uma causa nobre: provar a famosa Buchada do Vavá, no povoado Baixa do Capim, município de Arapiraca. Ao longo dos seis quilômetros de chão, dizia comigo mesmo: “Só vai nesse Vavá quem tem negócio”… Entretanto, aos poucos, meu olhar foi mudando, se harmonizando com beleza do agreste, até que avistei a casa pintada de vermelho. Havia chegado ao meu destino, a Buchada do Vavá.

Fiz o trajeto seguindo a orientação de Cicero Brito, artista plástico de faro apurado para boa culinária nordestina. Lá, deparei-me com um cardápio bem visível na parede, destacando o seguinte item: cabeça de bode – R$ 5,00. Disse logo para seu Vavá, um arapiraquense grandão e simpático, que, além da buchada, também comeria o prato exótico.

A estrada para chegar a Buchada do Bode

A estrada de barro para chegar a Buchada do Vavá

Imaginava algo assustador. Porém, a aparência nada tem de impactante. A massa, bem temperada, é leve e desmancha no céu da boca. Em média seu Vavá compra cinco cabeças, e escolhe as dos machos, e logo pede desculpa: “não é nada contra as mulheres”.

O modo de fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal. Depois de meticulosamente limpa, por fim, é cozida junto com a buchada, acrescentando mais sabor, numa tradição nordestina mantida pelo seu Vavá.

Buchada do Vavá, tradição de 20 anos, no povoado Baixa do Capim

Buchada do Vavá, tradição de 20 anos, no povoado Baixa do Capim

A Buchada é servida de forma clássica, com o delicioso pirão do próprio cozimento. Seu Vavá diz que o segredo é a limpeza, que requer muito cuidado e dedicação.

O preparado tem como base o bucho do bode ou carneiro, recheado com  fígado, vísceras, gorduras – lavadas com limão, vinagre e sal. Em seguida são cortadas, temperadas com cominho, sal, alho,  legumes. Tudo é adicionado ao sangue cozido e machucado (em vez de cortado, numa tradição do fazer diferente de Seu Vavá). Uma vez recheados, os buchos são costurados com agulha e linha comuns.

Ritual: Tirando a linha para comer o recheio da buchada de bode

Ritual: tirando a linha para comer o recheio da buchada de bode

Seu Vavá foi batizado como Lorisval de Oliveira Brito, tem 59 anos. É casado com dona Ivonete, 52 anos. Foi tentar a sorte em São Paulo e lá fez de tudo, de pedreiro a vendedor de feira, até que um dia bateu a saudade, e ele voltou  para Arapiraca – já com a ideia de se dedicar ao que sabia fazer bem, a buchada.

No recomeço em Arapiraca eram apenas Vavá e Ivonete, e a buchada. Sem mesas e nem muito menos cadeiras. Atualmente são 30 mesas, e da cozinha do casal saem de 15 a 16 buchadas aos sábados e domingos.

Vista da Buchada do Vavá, na cidade de Arapiraca

Vista da Buchada do Vavá, na cidade de Arapiraca

Como sobremesa, são oferecidos doces de leite e de banana em rodelas, produzidos por uma associação de mulheres do povoado Baixa do Capim, num arranjo produtivo local muito saboroso.

Empreendedor: Seu Vavá já morou em São Paulo, mas a saudade trouxe de volta para Arapiraca

Empreendedor: Seu Vavá já morou em São Paulo, mas a saudade trouxe de volta para Arapiraca

Fachada da Buchada do Vavá, 20 anos de sucesso na cidade de Arapiraca

Fachada da Buchada do Vavá, 20 anos de sucesso na cidade de Arapiraca

Rota – Buchada do Vavá

  • R$ 25,00 Buchada Reduzida (pra duas pessoas)/R$ 40,00 Buchada Média (pra quatro pessoas)/ Não aceita cartão.
  • Funciona aos sábados, domingos e feriados. Das 11 até as 15horas.
  • Telefone: 99961.6030.
  • Como chegar – Pela AL 220, em frente ao shopping Garden, entre à direita e siga a estrada de barro. São 6 km e placas lhe indicarão o caminho.

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5 comentários
  • Fábio Lopes Barbosa
    9 anos Atrás

    Fiquei surpreso e feliz com a deliciosa reportagem de Nide Lins. Não imaginaria essa bela mulher aqui nos arredores de Arapiraca degustando a buchada do Vavá. Ah, se soubesse teria ido abraçá-la num ato de receptividade a essa criatura que demonstra sensibilidade, sabedoria e humildade. O mais saboroso nessa matéria especial foi imaginar Nide Lins em nossa terra agrestina. Seja sempre bem-vinda. Abraços, Fábio Lopes.

    • Nide Lins
      9 anos Atrás
      AUTOR

      fabio, muita grata pelos elogios e pela leitura do blog

  • BENEDITO RAMOS
    9 anos Atrás

    NIDE
    VOCÊ FAZ A HISTÓRIA DA CULINÁRIA ALAGOANA. COMO ADORO BUCHADA, FIQUEI INTERESSADÍSSIMO NO TEMA. MAIS AINDA NA CABEÇA DE BODE. EU CONHECI UM SENHOR NO INTERIOR QUE FAZIA CABEÇA DE BOI, QUE TINHA O APELIDO DE SANFONA. MAS ADOREI A REPORTAGEM E MAIS AINDA, OS DETALHES COMO SÓ VOCÊ SABE ESCREVER.
    UM CHEIRO
    BENEDITO RAMOS

  • Jailton Melo
    9 anos Atrás

    Nide
    Sou um leitor assíduo de seu blog e adoro suas postagens, parabéns por essa última, sou fã tanto seu, quanto de buchada. Sou de de Traipu mas vou lá no Vavá degustar essa iguaria o mais breve possível

    • Nide Lins
      9 anos Atrás
      AUTOR

      Grata jailton, pode ir sem medo, pirão danado de bom.abraço

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