Semana Santa com Macarronada de Camarão e/ou Siri Mole no Azeite

 

Durante muitos anos, provavelmente a partir da década de 70, a Macarronada do Edson, no bairro da Ponta Grossa, era o lugar sagrado da macarronada, ponto de encontro de todo mundo.

Minhas recordações vêm dos tempos do movimento estudantil, da época da Anistia, Diretas Já e outras campanhas. Lá, apesar da presença dos ativistas de todas as cores, não era lugar para  discursões calorosas. Era uma das regras do Edson. Aos fãs da massa estava determinado apenas o direito de saudar o prato de macarrão – acompanhado por opções como leitão, galinha ao molho pardo, a cavalo (ovos estrelados), filé. Os camarões eram servidos em duas alternativas: ao molho de tomate e à francesa – uma mistura do crustáceo com ovos mexidos. Todas divinas. Mas, infelizmente, a tradição alagoana se findou com a morte do Edson, há vários anos.

Por sua vez, a origem da Macarronada do Edson está literalmente casada com a Macarronada da Zefa, desde quando os dois eram marido e mulher, sócios, e o endereço era o mesmo.

Durante algumas décadas, depois da separação, Edson e Zefa mantiveram, cada um na sua, ambientados no mesmo bairro, um duplo reinado no mundo da macarronada em Alagoas.

Minha vivência foi mais na Macarronada do Edson dos anos 80, daí, com todo respeito à Zefa (que também já não mais está entre nós), dedico às minhas lembranças gustativas às receitas dele, ou – quem sabe – ao talento da Dolores e demais cozinheiras do mestre Edson.

Como a Semana Santa se avizinha vou tentar repassar para vocês uma dica de como preparar a macarronada “à francesa” (camarão com ovos mexidos – minha receita predileta). Claro: não é a igual a do mestre, mas pelo menos minha família gosta. Bom, também ninguém lá é expert em cozinha, mas comem que é uma beleza.

A outra receita é siri mole no azeite, preparada pelo chef Jonatas.

Macarronada “à Francesa” – escolha o camarão Vila Franca ou Rosinha, ambos dos mares alagoanos, também pode ser o Barba Roxa (cativeiro).

Eu testei com o Rosinha, adquirido na Companhia do Mar, vindo lá da praia do Peba, em Piaçabuçu.

Vale a pena destacar que o produto da Companhia do Mar já vem sem casca e bem selecionados, com porção em média de 600 gramas. O único trabalho é descongelar. Descongele na temperatura ambiente, não coloque na água pois isso interfere na textura.

A receita é simples e fácil de fazer. Eu uso duas embalagens de 350 ml de molho pronto com pedaços de tomates. Para dar mais sabor doure a cebola em rodelas até ficar macia, acrescente o molho de tomate, pimentão, tomates e coentro (todos picados). Deixe cozinhar os legumes. Por último coloque o camarão (tempere na hora – dica do chef Wanderson Medeiros) apenas com sal e pimenta do reino. Eu não coloco alho, mas quem gosta pode acrescentar sem medo. Por último adicione os camarões e bastam 10 minutos para a textura ficar macia.

No final coloque um pouco da mistura desse molho na frigideira e acrescente um ou dois ovos, depois os camarões, mexa e sirva por cima da macarronada. Simples e saboroso. O segredo é colocar o camarão no final.

Siri mole no azeite e alho – Quando o siri vai mudar de vida, vestir um novo casco, vapt: é capturado e vira uma especiaria cobiçada. O chef Jonatas, do restaurante Akuaba,  lembrou que na obra do escritor baiano Jorge de Amado, a moqueca de siri mole está presente, a exemplo do romance Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Apostando numa receita mais leve, Jonatas preparou o siri mole no azeite, sal e manteiga sem sal. Perfeito. Com certeza seria mais uma inspiração para o Jorge Amado, só que no romance entraria a chef Vera Moreira, mãe do Jonatas, pois foi ela a criadora da receita.

Também adquirido na Companhia do Mar o siri mole que usei é oriundo da comunidade Cadoz, na cidade de Coqueiro Seco. Para facilitar o serviço, já vem limpo, só precisa descongelar.

Na receita da Família Akuaba o segredo é a simplicidade. O siri mole é temperado apenas no sal, e nada mais, em seguida é colocado o azeite (pouco) na frigideira; quando estiver quente acrescente siris com os cascos para baixo, de “barriga pra cima”. O pulo do gato é dar pequenos furos no bichinho antes de ir para frigideira.

No final acrescente uma colher de chá de manteiga sem sal (segundo Jonatas, para não interferir no sabor) e por último espalhe as cebolas em rodelas e o alho picado. Tampe a frigideira para cozinhar. Quando o siri mudar de cor, avermelhando, está no ponto. O passo seguinte é só servir e se deliciar com uma cerveja bem gelada, por exemplo; mas quem entenda de vinho certamente não terá dificuldade de encontrar um par ideal para esse prato.

Dica final – Eu gosto de cozinha prática, e confesso que fiquei encantada com os produtos oferecidos pela Companhia do Mar. Como disse lá em cima, uma das vantagens é que os pescados vêm bem tratados e são beneficiados na própria empresa. O Sirigado chega inteiro na casa, grandão, com cerca de 18 quilos, e lá é fatiado em postas e peças de filé.

A empresa familiar é comandada por Edmilson e seu filho Milson Borda, que já teve barco e pescava. “Sempre gostamos de comer pescados, e 80% dos nossos produtos são alagoanos, mas também temos os importados, como o salmão do Chile”, explica Milson.

São mais de 40 tipos de pescados (alagoanos e importados). Entre eles, os camarões e os siris moles foram testados, com muito sucesso, pelo blog.

Como a Semana Santa está chegando, o conselho é abastecer o refrigerador e/ou o freezer com os melhores frutos do mar e da lagoa, para uma Mesa Santa na hora certa como manda a tradição. E não esqueça do Bredo – sempre se encontra um lugar para ele.

Rota Companhia do Mar

Rua Governador Carlos Lacerda, 190 Jatiúca.  Telefone – 3231-1386

Aceita cartão, preço do camarão a partir de R$ 25,00

 

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